quinta-feira, 3 de abril de 2014

Outros nomes pra dizer

Eu amo descer a ladeira da minha rua
O vento e as árvores me acolhem e me deixam voar
Mas por ele eu me deixei ser pego
Eu parei na ladeira pra ser abraçado
Mas o seu abraço me faz querer correr de novo
A esperar que ele esteja no fim da ladeira
Me faz querer que seja noite
Pra conversar ao lado
E a cada pausa cair no seu rosto
E acariciar sua barba
Seus olhos me fazem querer que seja dia
Para sentir minha pele arder levemente
Como se tivesse passado
O dia inteiro a beira de um rio
Seus olhos são como contas
Que se inclinam chamando meus beijos
E me depositam dormência nos lábios
Sadicamente em conta-gotas
E eu me perco nas minhas contas
Abandono minha lógica
E desejo me despir de toda roupa
Para sobrar a doce pele que nos engana
Por que o verdadeiro deleite estava no silêncio
Que nos uniu como se já fossemos meninos juntos
Como se tivéssemos vividos dias e noites nus
A beira de um rio onde os barcos levavam
para o lugar em que sempre estivemos

Ou que pra sempre queríamos estar.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Lentes Coloridas


Sei dessa historia que se espalhou, mas se esperar a respiração terminar seu caminho, verá que a dúvida ainda permanece. Nos olhos só se encontram dúvidas.O desejo de reposta é que modela a pergunta. Não há resposta nos meus olhos, não há declaração ou cumplicidade, se olhar dentro de mim saiba que  cometeu um roubo, não vou sentir nem falta nem vou começar a te obedecer pela extorsão, você não roubou nenhuma verdade,  você roubou minha liberdade de poder olhar para o chão. Eu confio no menino que disse que olhar nos olhos não era intimidade, acreditei tanto que quase repeti  no mesmo instante, intimidade é olhar na mesma direção. Isso as histórias também já disseram, mas  só se costuma dar atenção ao que se passa na TV. Eu parei de ver TV depois desse menino, por que me espantei como ele sabia buscar suas repostas. Como fui desvendado! E com o mesmo silêncio que me desvendou, quase o mesmo silêncio, me espantei quando nos vi estranhos. A falta de tempo nos tornou estranhos, o tempo nos separou, o tempo não sobrou para olhar nos olhos e viramos estranhos. Agonia é ter os olhos procurados por um estranho.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Prosas de Menino

No que penso, o sexo se torna bom, diria útil, quando se torna uma forma de carinho, quando não há mais a necessidade de climas pornográficos, de atuações inevitáveis pelo desconcerto de ser o sexo um segundo encontro e assim haver necessidade de um personagem, de um charme excitante. Não acho que isso seja falso, mas vejo como nos  sentimos patéticos ao final de uma tranza. Por que é difícil ser bom ator e mais difícil é contracenar por que na primeira vez, não importa o tempo que nos conhecemos, somos desconhecidos, faz parte do fetiche  mas não preenche nenhum vazio. E vezes raras desconhecidos atuam como se fosse o mesmo filme que se passasse nas duas cabeças, raridade de espanto, tanto que é comum a impressão se arrastar pelo tempo, também não julgo falsa, mas soa como areia que se arrasta pelas dunas e com ela nossa falta.
O sexo sempre em preocupação de tempo, se transforma quando usa do tempo e se desliga das preocupações, quando o tempo que nos aflinge por desanimar tudo que nos parece caro, desanima nossas atuações, quando chega a fadiga de ter que distanciar duas ou três personalidades e juntamos tudo pra fazermos como um só. A mesma pessoa que cozinha ou chega cansado do trabalho, a mesma voz que grita ou pede desculpas, pra os mesmo sussurros, agora tão reais,os mesmos pedidos de desculpas em beijos, ou em sorrisos despreocupados , em banhos  ou lençóis, em completo silêncio pra se  olhar, ou em gritos pra se esconder de seu amigo, corpos achados e enfim almas, acredito que sejam, espero que sejam. Engraçado como o monótono que várias vezes me perturbou me fez enxergar o novo florescer, o monótono corroeu minha paredes e minhas defesas e derrotou um fardo e se desatou sem juízo. E se nossa existência inquietante e descontente deflorará esse novo laço, não sei, mesmo já tento sido cúmplice de tantas mortes, não sei, preciso não saber.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Sonho Recorrente

Já sonhei com esse prédio
Já sonhei que visitava amigos 
com quem pouco falava
já sonhei com essa cidade
Já sonhei com essas calçadas
com a vista rala do mar
onde a luz se encandeava
Já sonhei com esse hotel
mas que nunca me hospedara
Já sonhei que ouvia risada
Procurava, para ver se fosse
Não era, continuavam com as falas
Já sonhei que tinha praia
Não via a areia
Mas sabia que existia
Isso me bastava
Já sonhei com este cigarro
Já sonhei que era calmo
Mas o cigarro não acabava
Já sonhei que contentava
O cigarro não acabava
Já sonhei com essa falta
O cigarro não acabava

domingo, 22 de maio de 2011

Sem Espanto

E eu me perguntava quem era aquele cargo, qual seria sua cadeira, tentava pela roupa que vestiam, pelos lápis que usavam mas ainda poderia ser os óculos. Eu não sabia, eu estava perdendo no meu jogo de julgar. Condenado e viciado. Sentenças das letras daquela que queria se cuidar mais. Nas grades o alvoroço e os trocados e eu no espanto daquelas palavras, das marcas no corpo e do jeito que mexia o cabelo.